Numa era de gratificação instantânea e canções de três minutos, há uma coragem imensa em olhar para trás e resgatar a grandiosidade perdida. Os ABSCENCE não só olham para trás, como constroem um castelo gótico sobre as fundações do metal dos anos 90. O seu novo álbum, “Enigma”, é uma obra de arte audaciosa e descaradamente romântica; uma ópera black/gothic metal que conta uma história de amor imortal entre duas vampiras. É o tipo de álbum que muitos de nós julgávamos extinto, e o seu regresso é glorioso.

"Enigma" é um álbum conceptual que exige ser ouvido como tal: do princípio ao fim. Cada uma das nove longas faixas é um capítulo de uma saga de sangue, traição e devoção. A banda tece uma tapeçaria sonora riquíssima, onde a agressividade do black metal se funde com a melancolia do metal gótico e a opulência da música clássica. O single "Our Love Ignites" é um exemplo perfeito da sua fórmula: riffs melódicos, arranjos sinfónicos épicos e uma interação vocal sublime, onde a fúria dos rosnados se entrelaça com a beleza de vozes limpas e etéreas.

A banda rejeita conscientemente o minimalismo. Aqui, mais é mais. As estruturas são complexas, as atmosferas são densas e a narrativa é o foco principal. Faixas como "Under Moon’s Glance" e "Eternal Vows of Midnight" são autênticas viagens cinematográficas, cheias de reviravoltas, passagens instrumentais elaboradas e um dramatismo que nos agarra e não nos larga. É um som que evoca a era dourada de bandas como Cradle of Filth, Theatres des Vampires e os primeiros trabalhos de Tristania, mas com uma identidade própria e uma produção moderna e poderosa.

“Enigma” é um triunfo. É um álbum para quem sente falta de discos que contam histórias, que criam mundos e que não têm medo de ser excessivos, teatrais e apaixonados. Os Abscence não estão a seguir tendências; estão a criar arte intemporal. Uma obra-prima gótica que ficará a ecoar muito depois da última nota se desvanecer na noite.