Numa era em que a música parece cada vez mais descartável, há bandas que ainda ousam sonhar em grande. Os ucranianos KORYPHEUS são uma delas. O seu terceiro álbum, “Gilgamesh”, é uma obra de metal progressivo na sua forma mais pura e ambiciosa: uma odisseia sónica que viaja por mitos antigos e reflexões modernas, construída com uma técnica irrepreensível e uma paixão avassaladora. Com uma produção de luxo e convidados de renome, este não é apenas um álbum; é uma declaração de intenções.

Desde a faixa-título, que abre o disco com a participação de Yossi Sassi (ex-Orphaned Land) no bouzouki, fica claro que estamos perante algo especial. A banda navega com uma mestria impressionante por um mar de influências, que vão desde a complexidade rítmica de Meshuggah até à grandiosidade melódica de Ne Obliviscaris. Singles como "Icarus" e "Odysseus" mostram a capacidade da banda para criar estruturas épicas, onde a brutalidade dos vocais guturais de Jullian Torse contrasta na perfeição com as linhas melódicas e limpas de Andy Gushin. A participação de Laura Guldemond (Burning Witches) em "Sleeper" adiciona ainda outra camada de dinamismo a um álbum já de si riquíssimo.

A produção é um dos pontos altos. A mistura de Dmitri Kim e a masterização do lendário Jay Ruston (Amon Amarth, Stone Sour) dão a "Gilgamesh" um som massivo, polido e poderoso, onde cada instrumento, desde as guitarras de sete cordas aos arranjos mais subtis, tem o seu lugar de destaque. É um som moderno, pesado e cristalino, que faz justiça à complexidade das composições.

“Gilgamesh” é um álbum denso, que exige múltiplas audições para ser totalmente desvendado, mas que recompensa o ouvinte a cada nova viagem. É a prova de que, mesmo em tempos de guerra e adversidade, a arte pode florescer de forma desafiadora e monumental. Os Korypheus não estão apenas a contar histórias de heróis antigos; estão a forjar a sua própria lenda no panteão do metal progressivo. Um dos grandes lançamentos do ano, sem qualquer dúvida.